CENTRO DE MEMÓRIA DE HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E TECNOLOGIAS DIGITAIS
Criado por: Ricardo de Oliveira Muniz Junior
Última Atualização: 04/05/2021
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Segundo David Leavitt (2007) publica em seu livro O Homem Que Sabia Demais: Alan Turing e a Invenção do Computador a mãe de Alan Turing diz que seu filho sempre se interessou por números e invenção de palavras. Ela que ensinou a dividir números longos, e que ele sempre buscava entender os princípios subjacentes e aplica-los. Quando aprendeu na escola a determinar a raiz quadrada, deduziu por si só como encontrar a raiz cúbica.
Connor e Robertson (2003, tradução nossa) descreve que nas disciplinas de matemática e ciências, os professores apresentaram relatórios positivos, porém sempre havia o que reclamar. Um relato de 1927 do professor Randolph na escola de Sherbone dizia que Alan gastava muito tempo investigando matemática avançada e negligenciava a básica. Alan Turing (figura 1), com 15 anos de idade, encontrou uma série infinita para a função da inversa da tangente, começando da fórmula trigonométrica para a série . O professor queixou da originalidade, e mais tarde disse que seu trabalho havia sido rejeitado por conta de estar mal apresentado.
Figura 1: Fotografia e Placa de Alan Turing em sua Estátua em Sackville Gardens, Manchester (CONNOR e ROBERTSON, 2003)
Fonte: J. J. O'Connor and E. F. Robertson, Turing, Alan, MacTutor History of Mathematics, (University of St Andrews, Scotland, February 2003). Disponível em <https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Turing/>
Além disso, Alan Turing sempre utilizava da lógica para resolver as questões, demonstrando teimosia para tomar tudo no sentido literal. Por exemplo durante um exame foi questionado: “Qual é o locus (lugar geométrico) disso e daquilo”, e em vez de apresentar a prova como esperada, ele simplesmente respondia: “O locus é isso e aquilo”.
Ele utilizou desta lógica para ingressar no lugar de defesa chamado Home Guard para aprender a atirar durante a Segunda Guerra Mundial, o qual respondeu negativamente no ato da inscrição de que não compreendia que ao realizar a matrícula se submeteria à lei militar, e quando foi entrevistado por um soldado, ele disse que não era de seu dever participar, pois não era militar, pois havia respondido como não o questionamento e também não havia assinado o seu cartão de identidade.
Em 1927, o pai de um amigo conhecido como Alfred Beuttell estava trabalhando em uma invenção de iluminação uniforme a retratos e pôsteres, pediu ajuda a Turing para encontrar a fórmula que determinaria a curvatura certa do vidro. Alan determinou a curvatura e também indicou qual espessura do vidro afetaria a iluminação, algo que ninguém havia observado.
O melhor amigo de Alan Turing na escola foi Cristopher Morcom, apresentaram uma amizade romântica, marcado por acessos de emoção entusiástica. Turing sempre escrevia o quanto admirava seu amigo, embora quando estivessem juntos era mais provável dos dois conversarem sobre a matemática do que sobre poesia. Morcom morreu de tuberculose em 1930, e essa perca arrasou Turing, porém não se sabe se Cristopher era homossexual (CONNOR e ROBERTSON, 2003, tradução nossa).
De acordo com Leavitt (2007) Alan Turing ingressou em Cambridge no King’s College para estudar Matemática no ano de 1931. Seu trabalho inicial foi em matemática pura, incluindo a teoria dos grupos. Desde o início, ele estava provando o que já havia sido provado e produzindo teoremas. Uma publicação de 1935 consta como “Equivalence of Left And Right Almost Periodicity”. Após uma palestra sobre a metodologia da ciência, Turing foi conduzido a dedicar-se e a descobrir uma prova que explica a razão pela qual medições, quando representadas em um gráfico, tendem a formar a curva de Gauss. Mais tarde, descobriu que o “Teorema do Limite Central” já havia sido provado em 1922. assim foi encorajado a incluir os resultados no trabalho intitulado “On the Gaussian Error Function”, o qual conquistou uma bolsa de 300 libras por ano.
Em Cambridge, quando Alan Turing começou seu trabalho sobre Problema de Decisão, a palavra computador significava a pessoa que fazia cálculo sozinha. Em 1937, no Proceedings of The London Mathematical Society, Alan publicou o artigo intitulado “On Computable Numbers”. Seu trabalho foi marcado por frases cheias de modéstia, especulações filosóficas e matemática altamente técnica, terminando sem Turing imaginar a importância a qual era seus feitos.
A partir daí, Alan Turing busca construir uma máquina universal. A primeira máquina que Turing dá como exemplo é uma máquina para escrever “010101...”, e sua lista de configuração pode ser visto na figura 2. Turing escreve várias máquinas, mas não consegue alcançar um padrão dito universal.
Figura 2: Exemplo da lista de configuração de uma máquina de Turing escrevendo 0101010... (LEAVIT, 2007)
Seguindo as referências de Connor e Robertson, (2003, tradução nossa). Durante a guerra, vários matemáticos passaram pela faculdade e isso distanciou Alan de seu foco inicial, eram poucos lógicos e muitas mentes brilhantes no mesmo local, como Von Neumann, Einstein, Veblen, T.Y. Thomas e Al Tucker, e tudo acontecia simultaneamente, assim um estudante de pós-graduação ficava emaranhado entre 16 áreas e não chegava a lugar nenhum.
Alan Turing estudou com Von Neumann, porém recusou uma oferta de trabalhar como assistente, retornando à Inglaterra, onde foi convocado para um curso de criptografia e encriptação em Londres.
Durante a guerra, junto com outros matemáticos e engenheiros, Alan Turing desenvolveu técnicas para burlar a criptografia, seja manualmente ou mecanicamente, sendo assim conseguiam rastrear as mensagens codificadas e decodifica-las a fim de obter informações confidenciais sobre possíveis ataques. Turing sempre buscava explorar os erros alemães, como por exemplo uso das sequências de três letras que figuravam o teclado da máquina de escrever: digamos EDC, RFV e TGB.
John Von Neumann e Alan Turing mantinham contato, sendo que, muitas vezes, os créditos das ideias de Turing eram atribuídos apenas à Von Neumann. Tal afirmação foi publicada por Martin Davis. Ambos chegaram a trabalhar juntos no ENIAC.
No entanto, Alan Turing preferiu trabalhar em um projeto só seu, era para ser um computador chamado ACE – Sigla em Inglês para Máquina de Computação Automática, que poderia resolver problemas completos, porém com um custo alto nunca foi criado fisicamente, apenas os relatórios dizendo como funcionaria. O ACE poderia jogar xadrez, resolver problemas matemáticos completos, escrever poesias, entre outras coisas.
Sendo assim, Alan descreveu o que é chamado atualmente de Teste de Turing, onde mede-se a capacidade de uma máquina em apresentar comportamentos humanos. Será que as máquinas poderiam pensar? O teste era chamado de jogo da imitação, onde seria jogado por três pessoas: um homem, uma mulher e um interrogador. O objetivo do jogo era o do interrogador descobrir quem era o homem e a mulher, sendo que o mesmo só poderia fazer perguntas e obter respostas sem ver quem estava do outro lado. As respostas deveriam ser escritas e entregues ou datilografadas. Sendo assim, foi feito a pergunta: o que aconteceria se uma máquina tomasse o lugar de uma pessoa no jogo, será que o interrogador identificaria como no jogo quem seria o homem e o computador?
Os anos seguintes que Turing passou trabalhando com computadores o manteve isolado de outras pessoas, sendo a maior parte de seu tempo sendo dedicado à aplicações da máquina a problemas puramente matemáticos (CONNOR e ROBERTSON, 2003, tradução nossa).
De acordo com Leavitt (2007), Alan Turing se envolveu com Arnold Murray, um jovem de classe operária da época, e depois de alguns desentendimentos, a polícia passou a investigá-los, e quando Turing ligou para a polícia, eles informaram que sabiam do seu caso com Arnold, e em vez de prenderem o Arnold que o havia roubado, prenderam a Alan Turing por ter um caso com um homem. Quando em liberdade Alan foi sentenciado para um tratamento com estrogênio, com o objetivo de curar a sua homossexualidade a castração química.
Connor e Robertson (2003, tradução nossa), relatam que em 8 de junho de 1954, foi encontrado o corpo de Alan Turing sobre a cama, perto dele havia uma maçã com várias mordidas. Algumas versões compõem narrativas sobre a morte de Turing. Existe a possibilidade de ele ter cometido suicídio envenenando a maçã com cianeto. Outra hipótese é que Turing sofreu um acidente com seus produtos químicos (incluindo o cianeto de potássio).
Apesar do preconceito revelado pela sociedade britânica da época de Turing, em 2013, a rainha Elizabeth II declarou perdão real, como um pedido de desculpas pelo Reino Unido em 1952 ter condenado Alan Turing por ser homossexual.
Disponível nos Anais do XIII SNHM (2019)
SBHMat - Sociedade Brasileira de História da Matemática - Anais - ALAN TURING, A CIÊNCIA DA COMPUTAÇÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES. Pg. 1722
CONNOR, J.J.O.; ROBERTSON, E. F. MacTutor History of Mathematics. University of St Andrews, Scotland, February, 2003. Disponível em: <https://mathshistory.st-andrews.ac.uk/Biographies/Turing/>. Acesso em: mar 2021.
LEAVIT, D. O Homem que sabia demais: Alan Turing e a Invenção do Computador. [tradução Samuel Dirceu].- São Paulo : Novo Conceito Editora, 2007.